Uma leitora curiosa me perguntou o que ando lendo. Com as devidas desculpas a meus leitores masculinos, são as mulheres que fazem as
melhores perguntas. É certo que a elas foi dada uma inteligência superior à
nossa e uma capacidade ímpar de imaginar e sonhar mais do que os homens.
Respondi o óbvio a minha leitora: estou lendo romances para
me inspirar para a sequência de CRIMESnoMOSTEIRO. É claro que uma resposta tão
evasiva não a satisfez. Ela queria saber quais livros.
O nervosismo curioso dela não permitiria que lhe explicasse
que preciso ganhar o pão e a manteiga de todo dia escrevendo e lendo outros
artigos que não os literários. Talvez ela nem imagine que escrevo longos
relatórios e tratados sobre Marketing Digital que ela odiaria ler.
Falei então que estava me deliciando com “A Morte do
Almirante”. A pergunta óbvia veio em seguida: “De quem é?” Por que minha
querida leitora nunca faz perguntas fáceis? Vou chamá-la nesta crônica de
Emengarda, por pura falta de originalidade ou por um forte desejo escondido de sacaneá-la.
– Emengarda, Emengarda, o livro foi escrito por uma dezena
de autores – respondi, tentando me desvencilhar da pergunta insistente.
– Nunca vi uma coisa
dessa – rejeitou Emengarda. – Geralmente é um só escritor. Até já vi
assassinatos cometidos por várias pessoas ou várias vítimas serem mortas numa
sala. Mas.... vários autores? Isso é novidade para mim.
Não culpo minha amiga. Também fiquei surpreso a primeira vez
que peguei no livro. Ele foi escrito por romancistas de suspense do começo
do século 20. Alguns já caíram no esquecimento. Mas ninguém vai me dizer que
não conhece uma de suas autoras: Agatha Christie.
Pois além dela, o livro mostra a arte invencionista de Doroth L. Sayers (que o diabo amaldiçoe quem
não sabe o que abrevia esse L do nome), G.K. Chesterton, Victor L. Whitechurch (sim, tem nome de
bispo, mas é cônego), G.D.H. (que Deus não perdoe quem não souber o que
significam cada uma das iniciais), M. Cole, HenryWae, Jonh Rhode, Milward Kennedy,
Ronald A. Knox, Freeman Wills Crofts, Edgar Jepson, Clemence Dane e Anthony
Berkeley. Ufa! consegui terminar.
Todo eles faziam parte do Detection Club, uma associação
inglesa de escritores de romances policiais. O objetivo do livro era, claro,
arrecadar fundos para o bendito clube. A obra é, no mínimo, instigante. Um
escritor vai deixando pistas e soluções em cada capítulo para o outro resolver.
E não pode usar artifícios baratos para desvendar o crime (como coincidências
improváveis) e nem tentar iludir o escritor seguinte com ações absurdas e
pistas falsas.
“A Morte do Almirante”
é uma lição para o escritor de livros policiais. E um curioso tratado do
crime produzido em páginas literárias. Vale muito a pena ler. Só me recuso
terminantemente a responder última e a ofensiva pergunta que me fez Emengarda
depois que pacientemente lhe expliquei tudo que acabo de escrever.
– E quem matou o
Almirante?
Bem, Emengarda, Emengarda, eu prefiro me calar agora, pois,
para certas perguntas, perco a paciência e desejo mandar as perguntadeiras
espevitadas para o lugar onde todos os bastardos foram nascidos. Traduzindo:
“Vá procurar na esquina a livraria que abriu!”.
Como diria o detetive Ferretti: “Capici?” Cada uma que me
aparece!
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